A Escarpa da Serra do Pilar

Na passada segunda-feira, dia 17, foi decretado o alerta distrital para a área denominada Escarpa da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia. Segundo a notícia divulgada pela RTP (ver aqui), "a decisão foi tomada com o objectivo de assegurar a protecção das pessoas da zona". Ao que parece, a escarpa foi ocupada indevidamente, pois as construções são ilegais... e feitas em terrenos do Governo.
Sem pretender entrar aqui na discussão do "sai" ou "não sai" e do "quem tem ou não razão" existe o facto da ilegalidade da ocupação, mas o problema estará ainda mais a montante, uma vez que o LNEC já alertou para os riscos existentes na escarpa em 1967 (ver no JN)... não houve licenciamento para construção na escarpa, mas provavelmente persistiu alguma passividade perante aquilo que por lá se ia fazendo...
Se não houvesse ocupação e não existissem bens a proteger também não havia estado de alerta...
Polémicas de parte, façamos um retrocesso e vejamos o estado de ocupação humana daquela área num passado recente:
- Primeira imagem: Carta datada de 1809. Vila Nova (de Gaia) resumia-se ao convento da Serra do Pilar, caves de Vinho do Porto, algumas construções ao longo da via que hoje é a Avenida da República e pouco mais. A escarpa não estava estava ocupada.

A Travessia do Douro, in The Peninsular War

- Segunda imagem: breve visão da envolvente do Convento da Serra do Pilar em 1838. Para além do convento, nada a assinalar. Provavelmente tudo se mantia igual relativamente a 1809.

Convento da Serra do Pilar em 1838, in Le Voyage en Papier - Marc Dechow
Se no século XIX o risco existia, nem sequer seria relevante. Na área, que estava no seu estado natural, mesmo que se verificassem movimentos de vertente seriam processos naturais e decorreriam processos de auto-regeneração até que se verifica-se nova instabilidade. Com ocupação humana a sustentabilidade pode ser posta em causa, mas pior que isso será a acção humana constante, que impede e/ou dificulta quaisqueres processos naturais.

Veja-se agora através do Google Maps o estado actual da escarpa:



Ver mapa maior

Pode dizer-se que muito provavelmente a escarpa começou a ser ocupada depois de meados do século XIX e até meados do século XX, pois já se falavam dos riscos existentes em 1967. 40 anos depois de um primeiro "aviso" tudo continua na mesma e nada ou muito pouco se fez. Um século bastou para que a escarpa fosse ocupada... talvez seja preciso também um século para que a área problemática fique livre, deixando de ser uma ameaça. Isto se deixar de haver ocupação... mesmo que se criem condições legais para a mesma...

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